Wednesday, March 26, 2014

“Entre Nós”

A culpa é a força motriz do intimista “Entre Nós”, dirigido por Paulo Morelli. A história começa em 1992, num sítio, onde sete amigos se reúnem para discutir os livros que estão escrevendo e com o qual pretendem mudar o mundo literário. Eles também enterram uma caixa com cartas com o objetivo do que pretendem estar fazendo dentro de dez anos. Só que naquele mesmo dia, o escritor mais promissor deles, Rafa (Lee Taylor), morre num acidente de carro.

A trama dá um salto de exata uma década, e novamente o grupo se reúne no mesmo local, com o objetivo de desenterrar a cápsula do tempo, e reverenciar a memória de Rafa. Um deles, Felipe (Caio Blat) casou com a linda Lúcia (Carolina Dieckmann) e lançou um livro de sucesso, ganhando muito dinheiro e ficando famoso. Mas pesa sobre ele a suspeita de que tenha se apropriado do livro de Rafa e publicado como seu.

No reencontro, os seis amigos discutem o que mudou em suas vidas naqueles dez anos. Suas frustrações, anseios. O casal formado por Drica (Martha Nowill) e Cazé (Júliol Ribeiro) se ama, mas ela sofre por ele não querer lhe dar um filho, e isso é motivo para fortes discussões. Já Silvana (Maria Ribeiro) manteve-se tão bonita quanto antes, mas não encontrou o amor, e Gus (Paulo Vilhena) é um homem depressivo, frustrado e ainda apaixonado por Lúcia.

A história é forte e interessante, e o elenco, todo ele, está ótimo. Atuações seguras e tranquilas, sem exageros. Os destaques ficam com Martha Nowill, Carolina Dieckmann e Paulo Vilhena, distante aqui de seus personagens violentos e estereotipados de outros filmes.

Cotação: ótimo
Chico Izidro

"Rio 2"


O que menos tem em “Rio 2” é exatamente o Rio de Janeiro. A animação dirigida por Carlos Saldanha passa quase que por completo na Amazônia, e traz a ararinha Blu, a sua esposa Jade e seus três filhos se aventurando pela selva, em busca de outros de sua espécie, que acredita-se em extinção. O casal de biólogos que salvou Blu no primeiro filme, Linda e Túlio, se encontra na Amazônia, e encontra sinais de que existem outras ararinhas azuis. Blu, Jade e seus filhotes partem para ajudar na busca. Quem tenta impedir o sucesso da missão é a cracatoa Nigel, e o dono de uma empreteira que tem interesse em desmatar a floresta. Lá Blu vai se deparar com o antipático e impaciente sogro, e terá de provar que não é somente uma ave de estimação, apesar das inúmeras trapalhadas que provoca.

Os vilões, aliás, são o melhor do filme. Nigel é uma cracatoa que ficou impossibilitada de voar após ser atingida por Blu, por isso deseja a vingança. Ele é acompanhado pela rã venenosa Gabi, apaixonada por Nigel, mas que não pode tocá-lo por causa do veneno que carrega no corpo. A rãzinha canta até ópera para o seu amor, que sabe ser impossível.

A trilha sonora é recheada de ritmos brasileiros, como o carimbó, maracatu, ciranda, e até mesmo funks e sertanejo. Para quem não curte estes tipos de som, pode ser um tremendo incômodo. Além do que, “Rio 2”, mesmo dirigido por um brasileiro, é recheado de clichês sobre o Brasil, como um Rio de Janeiro que só vive de carnaval, e uma floresta amazônica repleta de seres peçonhentos, como aranhas, e cobras imensas.

Mas a história é boa, pró-ecológica e com boas tiradas.

Cotação: bom
Chico Izidro

“Em Busca de Iara”

Iara Iavelberg foi um dos nomes icônicos da guerrilha brasileira contra a ditadura militar em fins dos anos 1960 e começo dos 70. Sua trajetória é analisada no documentário “Em Busca de Iara”, dirigido por Flávio Frederico, com pesquisa e reportagem da sobrinha dela, Mariana Pamplona, batizada assim em homenagem a tia, cujo nome de guerra era justamente Mariana.

E a sobrinha percorre o Brasil entrevistando ex-companheiros e testemunhas que viram os últimos momentos da vida da companheira de Carlos Lamarca. Mariana consegue boas imagens de época, desde os tenros anos de Iara, que casou cedo, em 1961, aos 17 anos. Mas logo ela notou que a vida de casada não era para ela, e em 1963 ingressou na faculdade de psicologia da USP – e no ano seguinte, o do golpe militar, ela já começava a participar do movimento estudantil. Passo para a entrada na luta armada e na clandestinidade.

Iara foi morta em 1971, em Salvador, mas os militares alegaram que ela havia se suicidado. Este fato prejudicou até o seu enterro, pois considerada suicida, não pode ser enterrada ao lado de seus familiares no cemitério israelita de São Paulo. Somente anos depois, após comprovado o seu assassinato pelas forças repressoras, é que seu corpo foi transferido para solo consagrado.

A pesquisa de Mariana é notável. O documentário encontra vários personagens que acompanharam os momentos mais importantes da guerrilha contra os militares. E até mesmo o jovem que dedurou Iara aos militares quando ela se escondia no prédio onde seria morta. O rapaz, hoje, um senhor de 60 anos, desistiu de dar seu depoimento.

Cotação: ótimo
Chico Izidro

“O Grande Herói”

Para começar, “O Grande Herói”, dirigido por Peter Berg, é um título completamente equivocado. No original, o filme foi intitulado “Lone Survivor” ou o Sobrevivente Solitário, e relata uma história real, baseada no romance do ex-fuzileiro Marcos Luttrell em parceria com Patrick Robinson. O filme começa com imagens reais de treinamento exaustivo e quase inumano em que passam os soldados, para conseguirem sobreviver nas situações mais extremas e adversas.

Logo vemos um grupo de soldados, liderados por Luttrell (Mark Walhberg), prontos para uma missão no interior inóspito do Afeganistão: capturar um líder talibã. Só que uma decisão equivocada e um dos momentos mais tensos do filme, colocará tudo a perder. Eles encontram pastores afegães na floresta. E o que fazer? Matar os pastores ou libertá-los, sabendo que eles poderão denunciá-los para os talibãs. A decisão errada faz com que logo os soldados se vejam cercados por mais de duzentos fanáticos talibãs, numa verdadeira caçada humana. E aí é que entra o treinamento por qual eles passaram. Os soldados começam a ser caçados, levando tiros, pulando penhascos, com seus corpos sendo destroçados, ossos quebrados. Desta carnificina, apenas um deles sairá vivo, o próprio Luttrell.

“O Grande Herói” tem momentos que remetem a “Falcão Negro em Perigo”, onde uma missão na Somália também fracassou, e os soldados tiveram de lutar pela própria vida, cercados por inúmeros inimigos. “O Grande Herói” é um bom filme de ação, mesmo com suas cenas improváveis. Afinal, quatro homens vão matando com apenas um tiro certeiro os talibãs, enquanto seus corpos levam tiros e mais tiros, e mesmo assim seguem correndo, fugindo, sentindo um pouquinho de dor...

Cotação: bom
Chico Izidro

“Namoro ou Liberdade”

“Namoro ou Liberdade”, direção de Tom Gormican, é um filme chato e repleto de clichês. Três amigos, Jason (Zac Effron), Daniel (Miles Teller) e Mikey (Michael B. Jordan), fazem um pacto após um deles ter sido traído e abandonado pela mulher: a ideia é viver intensamente a vida de solteiros, sem se apegar com nenhuma mulher. O objetivo é pegar o maior número de mulheres até os 30 anos. Mas claro que o plano começa logo a ir por água abaixo quando eles vão se envolvendo romanticamente com garotas que são seu xerox. E mesmo que não revelem aos outros que estão namorando e nem assumam o relacionamento com as meninas.

Uma delas, Chelsea (Mackenzie Davies) ajuda o amigo Daniel a pegar mulheres nos bares da vida, sem saber que os dois foram feitos um para o outro. E Ellie (Imogen Potts) é aquela gracinha, que se enturma perfeitamente com os amigos de Jason, bebe e joga videogame como se fosse um garoto.

Toda a história é tão monótona, tão previsível, que “Namoro ou Liberdade” sirva, talvez, apenas para aquela pessoa que nunca teve um relacionamento, e sonha com a garota ideal.

Cotação: ruim
Chico Izidro

Wednesday, March 19, 2014

“S.O.S. Mulheres ao Mar”


Mais uma comédia romântica para vender viagem de cruzeiro, como já o fora em “Meu Passado Me Condena – O Filme”. Agora é a vez de “S.O.S. Mulheres ao Mar”, dirigido por Cris D’Amato, que se passa quase todo em um cruzeiro que parte do Rio de Janeiro para a Itália. Nele está a tradutora de filmes pornô e projeto de escritora Adriana (Giovanna Antonelli), ao lado da irmã Luiza (Fabíula Nascimento) e a empregada Dialinda (Thalita Carauta). A viagem começou após Adriana, depois de 10 anos de casamento, ter sido abandonada pelo marido Eduardo (Marcelo Airoldi). Ele a trocou pela atriz Beatriz (Emanuelle Araújo), e parte com esta para uma viagem de cruzeiro. Adriana fica sabendo e decide recuperar o marido, levando Luiza e Dialinda juntas.

No navio, Adriana acaba se envolvendo com o bonitão André (Reynaldo Gianecchini), mas fica dividida pelo antigo amor e pelo rapaz, que no início ela desconfia que seja gay, tão educado, bom ouvinte e elegante que ele é. “S.O.S. Mulheres ao Mar” erra a mão, não se decidindo entre ser uma comédia escrachada ou romântica. As atuações são bisonhas, principalmente Gianecchini e seus diálogos risíveis. E pior é Thalita Carauta, de Zorra Total, como a empregada inculta, que se faz passar por madame e erra ao usar as palavras no plural, por total ignorância. Era para ser a parte divertida do filme, e só traz constrangimento.

Cotação: ruim
Chico Izidro

“Need For Speed – O Filme”


“Need For Speed – O Filme”, dirigido por Scott Waugh, é uma mistura de “Velocidade Máxima” com “60 Segundos”, e traz como personagem principal Aaron Paul, o Jesse Pinkman, do seriado cult “Breaking Bad”. Ele vive Tobey, mecânico que envolve-se numa corrida ilegal por causa de uma aposta, e nela morre o melhor amigo, Pete (Harrison Gilbertson). Ele acaba sendo considerado o culpado pela morte do amigo e vai para a prisão, onde cumpre pena de dois anos. Ao sair, decide participar de outra corrida ilegal, para tentar provar a sua inocência, e mostrar que o verdadeiro culpado pela morte de Pete foi Dino (Dominic West). Para tanto, tem de atravessar os Estados Unidos em 48 horas, sem nunca dormir, e fugindo da polícia. Convenhamos, é um plano muito ridículo, e passa despercebido pelos espectadores do filme, que ficam impressionados pelas excelentes cenas de corridas pelas estradas.

O personagem de Aaron Paul é quase um repeteco de seu Jesse Pinkman, um cara traumatizado, silencioso e desconfiado de tudo e todos. Já o vilão Dino não poderia ser mais caricato. Faz carestas com as sobrancelhas enquanto arquiteta seus planos diabólicos. E nem mesmo quando se dá mal consegue demonstrar alguma emoção no rosto.

O filme acaba valendo mesmo, como já dito, pelas ótimas cenas de corridas. Excelentemente filmadas e impactantes. E o 3D é desnecessário.

Cotação: regular
Chico Izidro

Wednesday, March 12, 2014

“Ninfomaníaca 2”

O polêmico filme do diretor dinamarquês Lars von Trier tem agora sua segunda parte em “Ninfomaníaca 2”, com a história de Joe (Charlotte Gainsbourg). Foi visto na primeira parte que ela foi encontrada em um beco escuro, espancada, por Seligman (Stellan Skarsgard), que a leva para casa. E ela passa a contar a ele sua trajetória sexual desde os tempos de menina. Agora, Joe continua revelando suas peripécias, desde o primeiro orgasmo, que teve aos 12 anos, ao assexuado Seligman, que escuta complacente e sempre com uma sacada filosófica ou religiosa para as atitudes dela.

Joe chega agora ao relacionamento estável e monótono com Jerôme (Shia Leboeuf), com quem tem um filho, Marcel. Só que ela não tem prazer com o marido, e fica procurando nas ruas encontrar a satisfação sexual perdida, seja com dois africanos, ou seja em sessões de espancamento protagonizadas por K. (Jamie Bell, ele mesmo, o garotinho dançarino de Billy Eliott).

O problema é que Lars von Trier filma de uma forma chata, monótona. E ele nem sabe filmar cenas de sexo, que mostram-se apenas constrangedoras. E Charlotte Gainsbourg tem uma cara de sofredora, e é quase impossível que ela, sem nenhum sex-appeal, consiga convencer como uma mulher que teve mais de 1.200 amantes. No final, as discussões filosóficas-teológicas entre Joe e Seligman quase põem o espectador a nocaute, de sono.

Cotação: ruim
Chico Izidro

“Alemão”

“Alemão”, dirigido por José Eduardo Belmonte, trata da tomada da favela do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, pelas Forças Armadas e policia. A produção, no entanto, deixa em segundo plano a atuação militar, e foca em cinco policiais infiltrados na favela. Eles passaram várias temporadas convivendo com os moradores e os traficantes do local, e preparando o plano para a invasão programada que ocorreria para a posterior instalação da UPPS na comunidade.

Só que eles acabam sendo identificados após documentos sobre suas atividades caírem nas mãos dos traficantes. Para não serem mortos, eles acabam se refugiando numa pizzaria, que é o ponto de encontro dos espiões. Lá, surge a desconfiança, pois todos desconfiam de todos, pois afinal quem seria o alcaguete? Se é que existe um.

“Alemão” é um bom thriller de suspense, com os policiais infiltrados escondendo-se na pizzaria, enquanto lá fora os traficantes os caçam furiosamente. O filme, porém, traz alguns gritantes erros de continuidade, e por vezes se mostra melodramático demais.

Cotação: bom
Chico Izidro

Thursday, March 06, 2014

“Walt nos Bastidores de Mary Poppins”

“Walt nos Bastidores de Mary Poppins”, direção de John Lee Hancock, romantiza a visita que a escritora australiana P. L. Travers fez a Los Angeles no início dos anos 1960. Walt Disney, o criador da Disneylândia, pretendia filmar o livro clássico de Travers sobre a babá que revolucionava uma casa em Londres no início do século XX, e passou anos atrás da escritora, que se mantinha irredutível. Ela não queria a banalização de sua obra, nem musical, nem que houvesse animações na trama – todos itens essenciais nas obras de Disney para o cinema. Mas com dificuldades financeiras, Travers teve de repensar e viajou a Los Angeles para conversar com o empresário.

A trama ainda faz uma relação com o passado de Travers no interior da Austrália. Filha de um gerente de banco alcoolatra, a história vai e volta no tempo, mostrando a sua infância. E talvez esteja na relação com o pai seu presente, onde ela se apresenta uma mulher amargurada, mal-humorada e solitária. Nisso, o filme foi fiel.

Travers é interpretada com perfeição por Emma Thompson, que inferniza a vida dos roteiristas da obra que Disney pretende levar às telas. Tom Hanks vive Walt Disney, aqui nos últimos anos de sua vida. Após conseguir levar Mary Poppins para o cinema, ele viveria apenas mais dois anos, morrendo vítima de câncer no pulmão. E “Walt nos Bastidores de Mary Poppins” se mostra fora da realidade. É um filme asséptico, onde Disney, que fumava três maços de cigarro por dia, não traga nenhum. O máximo que seu personagem faz é tossir, indicando a doença que se avizinhava. Mas tudo bem, cinema é diversão, e o filme faz uma ótima reconstituição de época, com atuações seguras, principalmente Collin Farrel como o pai alcoolatra de Travers.

Cotação: bom
Chico Izidro

“300 – A Ascenção do Império”

“300 – A Ascenção do Império”, dirigido por Noam Murro, é de um impacto visual deslumbrante. E muito sangue e membros decepados rolam pela tela em suas quase duas horas de batalhas e mais batalhas. E por isso mesmo é uma ótima diversão. A história transcorre paralela aos eventos do primeiro filme, onde Leonidas e seus espartanos lutavam contra as forças persas de Xerxes. Mas aqui é mostrado o surgimento do enorme ser, de quase 3 metros, vivido por Rodrigo Santoro, que tem sede de vingança pela morte de seu pai, o Rei Dario.

Mas a trama fica mais centrada na grega Artemisia (Eva Green, excelente como uma das vilãs mais cruéis dos últimos tempos) em seu combate com o ateniense Themistocles (Sullivan Stapleton). Ela nutre ódio mortal por sua pátria, pois quando criança, seus pais foram mortos por gregos e ela passou anos num navio e depois foi jogada para morrer nas ruas, até ser adotada por Dario. Então seu objetivo é acabar com a Grécia e todos os seus habitantes. E Artemisia entra num embate, até mesmo sexual, com o guerreiro Themistocles, que causou a morte de Dario, ao acertar-lhe uma flecha no coração.

As batalhas são muito bem filmadas. São cenas de lutas no mar, com seus navios gigantescos, e homens perdendo a vida, com membros decepados ou perfurados por espadas. O 3D ajuda ainda mais nesta imersão visual, num filme de época que há muito não gostava tanto.


Cotação: bom
Chico Izidro

"As Aventuras de Peabody e Sherman"

A animação "As Aventuras de Peabody e Sherman", direção de Rob Minkoff, é
divertida e muito bem bolada. Peabody é um cachorro tão inteligente, que
vive como um ser humano, tendo inclusive ganhado um Prêmio Nobel. Educado,
polido, ganha o direito de criar um humano. E ele adota o menino Sherman,
tímido e vítima de bullying na escola - por exatamente ser criado por um
cão.

Um dos passatempos preferidos dos dois é viajar na máquina do tempo
inventada por Peabody. Assim Sherman conhece tudo de história, por
conviver com as mais notórias figuras históricas, como por exemplo George
Washington. Assim, se destaca na escola, para raiva da pequena Penny. Um
dia, irritado com as provocações da menina, Sherman acaba mordendo Penny,
e corre o risco de ser tirado de Peabody. O cachorro acha uma solução para
selar a paz entre os dois: reunir as duas famílias numa janta. Só que a
garota acaba descobrindo a máquina do tempo e desaparece nela. O jeito é
Peabody e Sherman irem atrás de Penny, se metendo em várias confusões,
desde o Egito antigo, passando até pela Revolução Francesa ou encontrando
Leonardo da Vinci.

A diversão é garantida, tanto quanto para os pequenos, quanto para os
adultos, com personagens simpáticos e envolventes. E numa animação muito
bem feita e criativa.

Cotação: ótimo
Chico Izidro

“Tudo Por Um Furo”

Ron Burgundy é misógino, racista e totalmente sem noção. Também é o âncora – apresentador – que tenta recomeçar a carreira após perder o emprego em San Diego. Então aceita a vaga de um programa na madrugada na novíssima GNN, emissora 24 horas de jornalismo – paródia evidente com a CNN – surgida em 1980, ano em que transcorre “Tudo Por Um Furo”, direção de Adam McKay.

A comédia mostra os bastidores do telejornalismo de forma escrachada. Ron Burgundy (Will Ferrell) tem a companhia de outros três colegas beirando o retardadismo: o homem do tempo Brick (Steve Carrell) o repórter investigativo Brian (Paul Rudd) e o cara dos esportes, Champ (David Koechner). E não bastasse o racismo e a misoginia de Ron, que se separou ao não aceitar que a mulher Veronica (Christina Applegate) permanecer no emprego, e como apresentadora, ainda se envolve romanticamente com a diretora da GNN, a negra Linda (Meagan Good), que não entende como pode se envolver com aquele homem rude, sem papas na língua para seus pensamentos retrógrados. O filme até tem seus momentos engraçados, principalmente quando esquece o politicamente correto, e deixa Ron atacar com as piadas racistas e sexistas. Numa delas, Ron não consegue parar de repetir “ela é negra”, “ela é negra”, ao descobrir a raça de sua nova chefe. Só que no final “Tudo Por Um Furo” escorrega, numa cena constrangedora, que conta com participação equivocada de Will Smith, Liam Neeson, Tina Fey, Sacha Baron Cohen e Vince Vaugh.

Como fator positivo, o registro preciso de reconstituição de época. A história se passa em 1980, e a caracterização dos personagens é precisa.
Cotação: regular
Chico Izidro

"Um Conto do Destino"

O roteirista e agora diretor Akiva Goldsman tentou trazer ao seu filme "Um
Conto do Destino" o realismo fantástico, gênero tão comum na literatura
sul-americana, principalmente nas obra de Gabriel Garcia Marquez, Julio
Cortázar e Jorge Luis Borges. Porém sua tentativa derrapa fragorosamente.
O filme é baseado em livro homônimo lançado em 1983 pelo escritor e
jornalista Mark Helprin. E se mostra uma xaropada impar na história do
ladrão filho de imigrantes irlandeses, Peter Lake (Colin Farrell), que
certa noite invernal invade uma mansão em Nova Iorque, e conhece e se
apaixona pela filha do dono da casa, Beverly Penn (Jessica Brown Findlay).

Apesar das diferenças sociais da época - o romance se passa nos anos 10 do
século XX, eles engatam um relacionamento, mesmo a garota tendo os dias
contados por ter tuberculose - à época doença praticamente incurável. Bem,
antecipo que o romance não prospera e Peter passa os 100 anos seguintes
vagando sem memória por Nova Iorque, sempre fugindo de um demônio vivido
por Russell Crowe. E Peter não envelhece nunca, e ainda tem a ajuda de um
cavalo alado.

"Um Conto do Destino" se mostra chato ao longo de suas mais de duas horas,
e apesar de apelar para o realismo fantástico, principalmente nas figuras
do cavalo alado e dos demônios - Crowe é um demônio seguindo as ordes de
Lucifer, nada mais, nada menos do que Will Smith, é de uma incoerência
gritante. As atuações, ainda por cima, são fracas, principalmente da
chatinha e insossa Jessica Brown Findlay, e também Jennifer Connely, que
passa o tempo todo fazendo cara de espanto.

Cotação: ruim
Chico Izidro

“A Grande Beleza”

O personagem Jap Gambardella (Toni Servillo) revive de certa forma o jornalista Marcello Rubini (Marcelo Mastroiani), de “A Doce Vida”, clássico de Fellini de 1960. Aqui, em “A Grande Beleza”, de Paolo Sorrentino, o escritor e jornalista Gambardella passa o tempo em festas e desperdiçando o tempo. Volta e meia ele é questionado por não ter repetido o sucesso de seu primeiro livro, “O Aparelho Humano” lançado há décadas, e que agora lhe propicia andar nas altas rodas de Roma, mesmo sem conseguir mais repetir o sucesso de sua obra. Aos 65 anos, Gambardella percorre a Cidade Eterna em suas festas movidas a música bate-estaca. O diretor mostra a cidade com um olhar moderno, mas sem esquecer a tradição do passado, com suas ruas estreitas, arquitetura milenar. Os personagens, a maioria na meia-idade, se perdem em festas infinitas, movidas a música eletrônica. Gambardella está lá no meio, perdido em suas divagações, observando os estranhos seres que o rodeiam, num emaranhado de imagens belas e cores berrantes.

Cotação: bom
Chico Izidro